
Heréticos & Eróticos I
“Tudo no mundo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder.” — Oscar Wilde.



A relação entre sexo e poder permeia as relações humanas desde o alvorecer da espécie, e hoje, amplificada pelos velozes e fragmentados mecânismos da contemporaneidade ocupa tanto nosso imaginário quanto nossas condutas diárias de forma imperativa sob disfarces cada vez mais sofisticados e perversos.
Se começarmos pensando na força que a própria imagem exerce sobre nós, perceberemos que ela em si já é o ato definitivo de consagração do ser humano perante seus desejos mais íntimos. Pode ser o corpo perfeito, o carro esporte, uma experiência exclusiva, a cobertura em Dubai, a capacidade de proporcionar ou atingir o orgasmo ideal, o dinheiro, a igualdade social, a queda de regimes autoritários, uma vida minimalista, ou qualquer coisa que você possa almejar.
Alguém ocupando determinado cargo de poder dentro de uma empresa certamente possui os recursos para conseguir sexo da forma que desejar sem necessariamente ter que investir em nenhum de seus funcionários, mas parece haver algo de irresistível em exercer influência a ponto de despertar desejo em alguém que esteja abaixo na hierarquia, da mesma forma que se pode sentir uma sensação indescritível de poder se você mexe com a libido e as fantasias de seus superiores. Receber sexo oral no gabinete presidencial enquanto ocupa-se o cargo máximo do executivo de uma das nações mais poderosas do mundo, talvez não seja a melhor política de estado, em compensação parece atender aos requintes mais complexos e elevados quando pensamos nas questões supracitadas.
Heréticos & Eróticos II



A maioria das razões apontadas para a mutilação genital feminina que ainda ocorre nos dias de hoje em pelo menos 29 países da África e do Oriente Médio, passa por aceitação social, religião, preservação da virgindade, “pureza” da mulher e ampliação do prazer masculino. Retratar a nudez e a sexualidade humana é uma prática antiga, com supostos registros a partir da era paleolítica e mesmo sem termos a certeza quanto ao propósito destes registros, se sexuais, espirituais, ou ambos, podemos traçar ainda que tortuosa e incerta, uma linha do tempo que em alguma bifurcação dos acontecimentos nos conduziu ao pantanoso terreno da pornografia.
O poder ainda represente uma fonte quase que inesgotável de acesso a privilégios e regalias de todas as naturezas. Já o sexo, segundo algumas pesquisas, não parece ser mais o expoente máximo da satisfação das nossas vontades mais primais. Estaria a virtualização da espécie transformando a tão polêmica e discutida natureza humana em uma miragem de alta definição, cada vez mais bela, idealizada e distante?

Ensaio Sobre a Impermanência



É na tristeza do findar que encontramos o combustível para nossa força motriz? Não seria o desejo pelo eterno apenas mais um objeto a arder na fogueira das vaidades? Heráclito há séculos já havia afirmado que a única constância é a mudança e mesmo assim tendemos a nos agarrar a esse desejo de permanência.
Motivos vanitas são extensamente abordados por artistas das mais variadas mídias, épocas, credos, etnias e ainda me parecem bastante relevantes, uma vez que lembrar da brevidade da existência e da certeza da morte pode ser uma medida profilática ao culto do eu para uma sociedade em que aparentemente o narcisismo extremo é fachada para inseguranças cada vez mais profundas e complexas.
O Estado da Alma



Um olhar sobre a fragilidade da minha fé perante as contingências da vida reveladas pela dura luz da realidade. Os ciclos que organizam a nossa existência, que já exerceram funções imprescindíveis à espécie, hoje estariam reduzidos a ilusão de se ter mais uma chance para fazer diferente, fazer melhor? Ou será que meu engano reside na ideia de que a ilusão do recomeço não possua a mesma importância das questões de outrora.
Somos igualmente regidos por sucessos e fracassos? Como os resultados de nossas decisões impactam em nossas próximas ações? Seria a fricção existente entre as nossas expectativas e a realidade dos fatos o atrito que nos mantém em constante movimento enquanto esperamos o inevitável?
“O desejo pode nos humilhar de duas formas básicas: negando-nos a realização do mesmo ou, pior, deixando que o realizemos.”